Contos de Fadas BLOGuil
A Rena do Nariz Vermelho
Era uma vez um pobre animalzinho que, por ter nascido diferente de seus pares, foi discriminado e relegado a uma vida de solidão e escárnio. Seu nome era Dumbo, mas não é dele que fala esta história.
Na época em que os animais falavam, no Pólo Norte, nasceu uma pequena rena, a qual seus pais deram o nome de Rodolfo. Rodolfo nasceu com uma moléstia gravíssima, que tornara seu nariz inútil, e corria risco de se espalhar para o resto do corpo, corroendo a pobre rena até uma morre horrível e extremamente dolorosa. Como esta história se passa muito antigamente, ninguém se preocupava se as pobres criancinhas iriam ficar traumatizadas com o infeliz destino do bicho e nunca mais quereriam celebrar o Natal, então é bom acreditar que ela morreria mesmo.
Para evitar a triste sina de seu filho, os pais de Rodolfo recorreram a uma cirurgia caríssima, arriscada e ainda experimental, na qual todo o septo nasal foi substituído por uma lâmpada. Se você faz parte da parcela da população que começou a se perguntar como ele respirava, lembre-se de que os animais falam, então esse é o menor dos seus problemas.
Assim, o pobre Rodolfo cresceu com uma lâmpada vermelha no lugar de seu nariz, que tinha de ser trocada uma vez por ano, para se ajustar ao seu crescimento. Toda vez que ele ficava feliz, triste, emocionado, com fome, sonolento, irritado, enfim, quase todo o tempo, a lâmpada acendia, o que fazia com que a pobre rena se tornasse motivo de chacota entre seus amigos.
E o pior: o sonho de sua vida era ser rena do Papai Noel, mas ele já havia prestado o concurso sete vezes, sempre sendo reprovado no exame de esforço físico. O único emprego que conseguira fora como dublê em Bambi vs Godzilla, o que lhe rendeu uma hérnia de disco que o acompanhou pelo resto de sua vida.
Mas isto não seria um Conto de Fadas se fosse feito só de miséria e sofrimento. Um belo dia, houve A nevasca, uma nevasca tão forte e tão densa que parecia que o mundo estava voltando à Era Glacial. Como Papai Noel não dispunha de nenhum mamute para puxar seu trenó, teria de cancelar o Natal, pois era impossível ver um pinheiro na frente do nariz.
Eis que Rodolfo, soturno, cabisbaixo e macambúzio, passava em frente à oficina do Papai Noel no exato momento em que o Bom Velhinho se preparava para recolher o trenó e anunciar que este ano milhões de criancinhas seriam decepcionadas. Rodolfo havia ido a um jogo de hóquei com os amigos e, na volta, devido à intensa nevasca, se perdera. Como não conseguia achar o caminho de volta, começou a ficar nervoso, o que fez com que seu nariz se acendesse. Ao ver aquela luz vermelha vindo em sua direção, Papai Noel pensou tratar-se de um snowmobile desgovernado, e imediatamente se jogou ao chão, demonstrando destreza incomum para a sua idade.
Porém, tudo se esclareceu quando a rena se aproximou, e, ao ver aquele nariz tão brilhante, nosso amado Kris Kingle teve uma idéia igualmente luminosa: somente Rodolfo poderia guiar as demais renas naquela nevasca, levando-as ao destino certo com seu nariz-farol! Rodolfo até ia contra-argumentar dizendo que nem tinha conseguido achar o caminho para sua própria casa, quem dirá para a casa dos outros, mas como ele iria conseguir entrar no serviço público pela janela, resolveu ficar quieto.
Assim, Rodolfo foi contratado em regime de peixada, conseguindo um cargo respeitoso, e jamais foi zoado novamente por nenhum de seus colegas, pois, afinal, ele salvou o Natal. Pelo menos não pela frente. E todos viveram felizes para sempre.